Concerto New Vintage
Data: 16 de dezembro (segunda-feira)
Hora: 19h00
Local: Sala Teresa Macedo, ESMAE
O Quarteto Vintage tem sido aclamado e distinguido não só pela sua excelência técnica e musical, mas também pela capacidade criativa e inovadora dos seus projetos. A longa experiência do Quarteto motivou o desenvolvimento de um projeto inovador, desafiando alguns dos melhores jovens compositores portugueses a escreverem música original para quarteto de clarinetes, como forma de contribuir para a promoção e divulgação da música portuguesa.
"Cores, Formas, Texturas, Histórias, Sonhos, Poesia. New Vintage é o espelho do nosso caminho com mais de 20 anos, de experimentação sonora e criação artística! New Vintage celebra a música e os músicos Portugueses! New Vintage é agora o nosso reflexo!"
Quarteto Vintage
Iva Barbosa - Clarinete em Sib e Mib
João Moreira - Clarinete em Sib
José Eduardo Gomes - Cor de Basset e Clarinete em Sib
Ricardo Alves - Clarinete Baixo
Programa
Rodrigo Cardoso
“Nuvem” - Nuvem, para quarteto de clarinetes, é uma peça que incorpora como premissa musical o contorno, volume e luminosidade de uma nuvem em metamorfose. O timbre homogéneo do quarteto permitiu-me perspetivar uma massa sonora em constante movimento, que varia na sua espessura, cor, profundidade e formato. Esse movimento surge também de uma busca pela inconstância rítmica, aliada a uma ideia de transe que habita em diferentes contextos texturais, propícios ao delineamento da forma. O transe de esquecer o pensamento para observar uma nuvem, pode ser similar ao transe de esquecer o tempo para ouvir o som.
Ana Seara
"Som presente desse mar futuro” - Sexto
D. DINIS
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972).
- 31.
Uma peça que tem origem na secção central (uma espécie de cadência alargada dos 4 solistas) da obra anterior e que se estende para outros lugares, outros pinhais e mares, para o futuro, que incorpora outros sons e a palavra falada.
Nuno Peixoto
Re_Invenções
Re_Invenções [1-7] para quarteto de clarinetes revisita sete andamentos selecionados das icónicas Invenções a duas vozes de Johann Sebastian Bach. Concebida como uma "versão warholiana" da obra-prima barroca, esta composição interliga a genialidade atemporal de Bach com técnicas e estéticas musicais dos séculos XX e XXI. O projeto Re_invenções, inicialmente concebido para piano solo, nasceu durante o período de confinamento da pandemia COVID-19 em 2020. A cada semana, uma nova Invenção de Bach era revisitada, dando origem a uma exploração criativa que culminou nesta versão para quarteto de clarinetes (adaptação realizada após convite do Quarteto Vintage). Cada andamento de Re_invenções apresenta uma fusão singular entre a linguagem musical de Bach e a de um determinado compositor (Boulez, Ligeti, entre outros) ou estética da segunda metade do século XX. Através de um diálogo intrigante entre estilos contrastantes e plurais, a obra adiciona novas camadas de significado à música original, criando uma teia sonora rica em alusões históricas e inovações contemporâneas.
Enquanto algumas das Re_Invenções exploram uma dimensão completamente nova através da distorção e transformação do material original, outras atuam como uma anamorfose musical, oferecendo uma nova perspetiva sobre a realidade das invenções de Bach. Com Re_Invenções, o público é convidado a redescobrir a beleza intemporal da música de Bach através de uma perspetiva moderna, desafiando as fronteiras entre o antigo e o novo, o familiar e o desconhecido.
Carlos Lopes
“c_gull” - “c_gull” surgiu da vontade de escrever uma peça inspirada pela paisagem sonora urbana do Porto. Todo o material da peça foi obtido através da análise espectral de gravações do trânsito na baixa da cidade, assim como do mar e dos navios cargueiros na Foz do Douro e no Porto de Leixões. Inesperadamente, um dos sons que mais se evidenciou durante esta análise foi o canto estridente das gaivotas, presente na maior parte das captações áudio. Este elemento ganhou tanto destaque durante a escrita da obra, que decidi incorporá-lo no título em forma de trocadilho: C_gull – Seagull / Clarinet_Gull.
Vítor de Faria
“(Con)tradições” - O clarinete é um instrumento que povoa o nosso imaginário enquanto representação das bandas filarmónicas. Como dizem os aficionados destas formações: são os violinos da música para sopros. Assim, decorre desta afirmação o implícito de que cabe aos clarinetes um lugar de primazia no discurso musical e, deste modo, um virtuosismo que deriva do seu interior. Partindo das raízes populares a que o clarinete se encontra adstrito, construiu-se sobre este plano de imanência um cruzamento com o erudito. Assim, pretendeu-se criar um discurso musical disruptivo que não se encontra nem puramente no âmbito popular nem no erudito. Existe, nesta obra, uma assunção da minha herança cultural, a minha hereditariedade musical.
1o And. - O que nos habita: o inicio de uma manhã, o frio, o orvalho, a humidade, os sons que preenchem o ar. A festa, a banda e o povo. O popular.
2o And. - Espaços comuns: recorreu-se a um modelo de um compositor consagrado e, de alguma forma, permitiu-se a transformação ou tornar disruptivo o discurso canónico atravessando-o com uma canção do cancioneiro popular português. O erudito e o popular.
3o And. - Uma outra (Con)tradição: é um pouco a súmula, do ponto de vista teórico, da intenção dos andamentos interiores. Entremeio, algures...
Fotografia: Susana Neves